Quero uma vida que não seja condicionada pela tua presença, ou aliás, pela falta dela. Quero poder chegar a casa, desligar-me do mundo e adormecer sem que sejam as dúvidas ou incertezas as últimas coisas a passarem-me na cabeça. Quero poder acordar numa manhã calma de seja lá qual for o dia da semana, e não ter a necessidade de querer saber de ti ou do que andaste a fazer enquanto eu estava a dormir. Quero poder sair de casa, ir aos cafés que costumamos frequentar, ao cinema, ou pôr gasóleo no meu carro novo sem ter medo de te encontrar na primeira esquina. Quero uma vida em que não exista isto - seja lá que sentimento for - que sinto por ti. Porque digo-te que já não é amor. Ou talvez ainda seja, seja sempre, mas não daqueles bons como mostram as comédias românticas que toda a gente gosta de ver num domingo à tarde. Quero desligar-me de ti e destes últimos anos da minha vida que vivi em função daquilo que dizias sentir. Na verdade, acho que nem tu próprio sabe aquilo que fui para ti. Foste enganando dia após dia pelos teus próprios sentimentos e pelo teu medo de ficar sozinho por não saberes sequer aquilo que querias de mim. Nos dias em que batia com a porta do teu carro como se nela tivesse a descarregar a raiva, ódio que sinto por ti, e tu ainda assim pedias-me para ficar. E eu ficava. Nos dias em que eu estava lá para ti, deitada no teu peito enquanto víamos um filme qualquer rasco, nem notavas que era eu que ali estava. Pergunto-me como é que depois de todos estes anos não consigo distanciar os momentos bons dos maus, os tristes dos felizes, os que nos amamos dos que nos odiamos. Que raio de amor foi este? Que me consumiu, tomou conta da minha vida e me fez viver os anos que dizem ser os melhores de sempre, a chorar por alguém que não sabe ainda aquilo que quer? Por alguém que me fez refém das suas duvidas, medos e incertezas.
Dizem que o tempo cura tudo. Mentira. Dizem que as oportunidades não aparecem, mas sim nós que as agarramos. Mentira. Dizem que o amor te torna no melhor e mais puro que consegues ser. Mentira. Nós somos aquilo que escolhemos, nós somos aquilo que o nosso consciente decide fazer. E eu ao longo destes últimos anos escolhi-te. Escolhi-te sempre acima de tudo e de todos, mesmo de mim. Até quando dizia aos outros que já não queria saber de ti ou que esta era a última vez que acreditava. Dava-te a mão e de olhos vendados continuava a escolher-te cegamente. Escolhi-te em todos os dias que jurei serem os últimos, acreditando sempre que não fosse a nossa última vez, porque não sabia ter outra escolha que não fosses tu.
Se o amor é realmente uma escolha, que acredito que o seja, se soubesse o que sei hoje, tinha-me escolhido a mim. De todas as vezes.