17 de outubro de 2012

alguém que não sou eu#1


Queria começar a escrever-te agora sem ter alguma obrigação para faze-lo. Escrever nos tempos livres, quando me lembrar que existes, ou quando o meu coração me disser que ainda há alguém a quem eu devo palavras. Devo? Dever talvez não seja o verbo certo, uma vez que sempre te preenchi delas, fosse qual fosse o momento. Queria poder dizer-te agora, que mudei. Que estou bastante diferente desde a última vez em que me viste á saída do metro na Baixa-Chiado. Nessa altura ainda tinha o cabelo comprido a cair-me quase pelo fim das costas, agora renovei-o, está pelos ombros. Aposto que te irás rir, porque sabias que para mim o meu cabelo era intocável. Pois bem cortei-o, e se queres saber, até gosto de me ver assim. Pareço mais alta do que aquilo que sou, e isso até é uma mais-valia, visto que não posso contar com mais dos meus 1.60. Agora já vivo sozinha num T1 perto das Amoreiras; mudei-me faz agora no fim do mês dois meses. Entrei na faculdade que queria, no curso que queria e finalmente estou a conseguir ter a vida que acho que queria. Digo acho, porque sabes como sou, um dia posso querer estar ali e no outro posso já querer estar na parte oposta. Era bom que estivesses aqui, assim levavas-me ao jardim para um trabalho que tenho de fazer e assim escusava de perder tempo e paciência a tentar apanhar o autocarro que acabo sempre por perder. Nunca fui muito boa em cumprir horários, e tu que o digas, não é? Depois trazias-me de novo a casa, eu deixava-te entrar e irias ver sim as mudanças que ocorreram em mim. Conheci o Diogo - um acaso daqueles que só acontecem uma vez da vida, e uma vez se mo permitires eu conto-te tal coincidência - e ele agora vem até aqui a casa fumar o seu cigarro à janela enquanto eu me deito no sofá e concluo alguns trabalhos para o dia seguinte. Eu deixo-o estar aqui, porque não me distrai em nada e com ele por perto até é mais fácil para mim. Ele tenta aproximar-se muitas vezes de mim, sabes? Eu na maior parte das vezes deixo que ele o faça, porque se há coisa que gosto bastante é surpresas e ele nisso é um ás na matéria. Eu e o Diogo conversamos sobre tudo, ele conta-me sobre a família dele que está no Porto e eu conto-lhe da minha e até lhe chego a falar de ti. Não lhe digo o que fomos, mas acho que ele dentro dele sente, que de alguma forma foste especial para mim. Mas mesmo assim não insiste, não me pressiona para que lhe explique como e porquê te conheci, e isso eu gosto bastante nele. Não pressiona as coisas, deixa tudo correr à força da vida e dos dias. E sim, eu acho que ele até gosta de mim, bastante. E eu gosto dele. Um gostar diferente daquele que gostei de ti, mas não menos importante - digo-lhe eu muitas vezes. Ultimamente ele tem feito aquilo que mais ninguém se tem preocupado em fazer: traz uma pizza quando não tenho tempo para fazer o jantar, vem buscar-me para irmos ao cinema, e leva-me a passear junto ao mar no carro dele. Eu já me sinto um bocadinho dele, sabes? Tenho ido sem medos, receios e ele tem estado comigo perante todas as minhas indecisões e complicações. Desde que te foste embora que as coisas mudaram bastante, é um facto. Bem sabes que não foi fácil para mim entender o curso das coisas. Porque foste. E deixaste-me quando se calhar se me tivesses pedido para ir contigo, eu ter-te-ia dito que sim, que ia. Gostei de ti como nunca tinha gostado de alguém - e não colocando em causa a importância do Diogo - eu sei que nunca haverei de gostar de alguém como gostei de ti. Porque todos os gostares são diferentes. E o meu de ti, e o teu de mim foi dos mais raros que eu já vi. Mas isso, são coisas que eu guardo, onde nunca ninguém vê, dentro de mim. Se voltasses agora, se me pedisses desculpa eu provavelmente o bocado que gosto do Diogo voltaria a gostar de ti. Mas não o faças. Tu aí. Eu aqui, com o Diogo. Sei que o gostar leva tempo e eu estou disposta a gostar dele como se gosta das pessoas a quem mais queremos bem na vida porque isso é feito com tempo, dedicação e confiança. E isso é algo que tenho encontrado em mim todos os dias para ele. Dou-lhe o meu tempo e deixo que ele partilhe comigo o dele. Tento mostrar de mim aquilo que eu sei que é aquilo que ele mais gosta. Apesar de achar que ele gosta de mim, até quando acabo de acordar aos sábados de manhã e ele me vem trazer o pequeno-almoço e eu ainda me encontro de pijama com o cabelo sem estar penteado. Acho que ele não se importa e até gosta que eu esteja assim para ele. Isto é ser-se transparente e contigo eu fui-o demais. Não o volto a fazer da mesma forma, mas também, não acho que ele tenha de sofrer as consequências daquilo que tu fizeste. E por isso estou para ele como ele está para mim - transparente e sem floreados. Simples. Ele acabou de me ligar a dizer que tem dois bilhetes para o Teatro esta noite e por isso tenho de me despachar. Gostava que me pudesses ler. Gostava que estas palavas chegassem até ti, que a minha transparência rocasse no teu coração e que tomasses conhecimento da minha mudança. Não por dentro, mas por fora. Por dentro estou na mesma - da mesma forma que me conheceste. Um dia arranjo maneira de me leres. Prometo.
Clara.

17 comentários:

  1. Não me canso de te ler, tenho dito. E, só uma pergunta: isto é mesmo fictício? Está sublime, como se tudo fosse a tua realidade. <3

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  2. de nada :)
    por vezes diz até mais do que gestos

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  3. Bem tinha a certeza que seria isso mesmo -uma mistura. Pois quando também escrevo assim, este tipo de textos, nem tudo é fictício, há partes que são partes de nós, da nossa vida e perguntei-te para ter essa certeza. Não quero agradecimentos, volta sempre que eu voltarei até a ti também. És linda e gosto muito de te ler, repito. Ah, e claro, as palavras estão guardadas em mim. Beijinhos <3

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  4. muito obrigada doce!<3

    isto está sublime

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  5. não tens de pedir desculpa, porque gostei muito de ler palavras que deixaste no meu cantinho. E sim, sabe sempre bem saber que há alguém que passou por situações semelhantes às nossas e que nos compreende, faz-nos não dar tanta importância aos nossos problemas e não nos deixa ter pena de nós próprios. Eu gostei bastante do que escreveste, e acho que apesar do título, está aqui um bocadinho de ti. Até posso estar enganada, mas é a sensação com que fiquei após ter lido isto...

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  6. Desde o inicio fiquei cativado por esta escrita, pela escrita boa que sei que encontro aqui, neste teu cantinho, sempre que cá venho.

    Muito, mas muito bonito de se ler.

    Um Beijo :)*

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  7. Venho ao teu blog desde à muito, leio as palavras mais lindas que tu escreves neste cantinho maravilhoso. E sabes ? cada vês tenho gostado mais dele, cada vez me cativas mais com cada texto teu.

    Desculpa a pergunta, este texto é mesmo verídico ?

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  8. a tua escrita é apaixonante, não me canso de te ler

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  9. obrigada, mesmo!
    isto é fictício ou real?

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  10. maria clara,quero começar por agradecer pelas palavras e por me leres e gostares de o fazer,é sempre bom recebermos esses mimos,principalmente aqui. em relação ao texto,posso dizer que acabo por não ser eu e ao mesmo tempo deixar pedaços de mim em todas as palavras. tem de tudo,é complicado de explicar. não tens blog?:))!

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  11. deixa-me então dizer-te que és maravilhosa. algo que já sabia mas confirmei mais com este texto. és gigante, linda e encantadora. espero que este seja o teu caminho, o verdadeiro. tens de ser feliz acima de tudo

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  12. oh, não é um espaço privado. eu escrevo para que me possam ler e dar a opinião. Mas mais que tudo, para partilhar as minhas vivências com as pessoas e deixar que elas partilhem as delas comigo, porque ajuda e muito...

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  13. Nao tens que agradecer minha querida. As tuas palavras fascinam-me de uma maneira tão bonita que nao consigo explicar, por isso, eu e que tenho que agradecer escreveres desta maneira. Nao, nao tenho, ja tive, mas copiaram-me duas vezes entao deixei de parte essa hipótese.

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  14. muito obrigada novamente:)) oh isso também já me aconteceu,mas não deve ser o motivo,para nos irmos embora.beijinho!

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  15. obrigada eu doce claire

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