Sempre disse e sempre escrevi que gostava de chamar as palavras enquanto ouvia Mafalda Veiga. Posto isto, não me lembro sequer do primeiro dia em que comecei a escrever, mas recordo-me sim que a ouvia. Há hábitos que não se esquecem, hábitos esses que se entranham em nós de tal forma que por mais que queiramos, não os conseguimos deixar para trás. Da mesma forma que as pessoas se habituam a beber um café depois das refeições, ou a fumar um cigarro logo quando acordam, eu tenho o hábito de escrever enquanto oiço a voz da Mafalda Veiga. Não me perguntem porquê, há muito que também eu deixei de o questionar. Deixei que acontecesse e também não me parece que seja agora - já perdi a conta dos anos que passaram - que vou ser capaz de evitar tal coisa. Sei que numa das suas músicas, talvez das mais especiais para tanta gente como para mim, ela canta enquanto fala em amor. Não são precisas muitas palavras para se definir o que acontece quando estamos realmente apaixonados: damos o que temos de melhor, e guardamos tudo - não só o melhor mas também o pior - que a outra pessoa nos dá. E imploramos-lhe, palavras essas que muitas vezes não são ouvidas, ou se calhar até são, mas entram a cem e saem a duzentos como se costuma dizer nos ditados populares, que faça o mesmo para connosco. Que nos guarde e nos dê tudo o que de melhor eles são. Desculpa-me. Não te queria escrever hoje, não hoje que nem sequer me lembrei de ti. Mas Mafalda Veiga és tu. As minhas palavras já foram o teu nome. A minha vontade de te escrever era semelhante à minha vontade de te amar. E foram tempos, temos esses em que soletrava o teu nome de trás para a frente e de frente para trás, sabendo eu que o fazia de olhos mais que fechados. Foram precisos quatro anos para os abrir e perceber que quando me dizias que os nossos caminhos se iriam voltar a juntar, anos mais tarde, tinhas razão. Mas nós só temos razão, quando queremos ter razão e eu sempre soube que entre nós, sempre quiseste mais que eu tê-la. Agora sei que quando os caminhos se separam, foram feitos para mais tarde se voltarem a juntar, que quando pensamos que já não existe mais nada é quando afinal ainda existe tudo. Felizmente em nós já não existe nada, apenas sorrisos de lembranças de horas bem passadas a contemplar o mar e uma mão de promessas que ficaram por concretizar. Mas tu és Mafalda Veiga para mim, nunca te disse. Mas também já é tarde, não é?Não preciso que me respondas, porque conhecendo-te como conheço (ou conhecia) saberia que a tua resposta seria um breve: nunca é tarde. Sempre gostaste de brincar às palavras feitas, e a verdade, é que tinhas jeito para o fazer. Esgotei de tal forma as palavras e os gestos que já nem palavras tenho para te responder a uma simples mensagem para irmos beber um café ou passear como costumávamos fazer. Não me leves a mal, mas sabes que sempre fui assim mesmo quando me dizias que me tinhas mudado e feito acreditar naquilo que ambos sabíamos que era amor. Anos passaram e confesso-te que já são raras as vezes que me lembro de ti. Raras ainda mais as vezes que tenho saudades tuas. Sei que provavelmente não irias acreditar em tais palavras, mas não sabes como é bom ser eu a acreditar nelas. Não sabes como é bom termos a certeza que nos desprendemos de algo, que em tempos achámos não ser capazes de viver sem.
Tal como tu também gosto imenso de escrever a ouvir música. Normalmente, oiço música clássica quando o faço, ajuda-me a concentrar. E não é só para escrever, mas a música está presente em tudo na minha vida. É quase tão essencial ouvi-la como respirar!
ResponderEliminarE é sempre bom quando somos capazes de seguir em frente e deixar no passado o que lá pertence! *
Que bom que é conseguirmos desapegar-nos de algo que um dia pensámos não ser capazes de desprender de nós! O tempo sara todas as feridas, ou, pelo menos, vai sarando
ResponderEliminaroh não sei a minha professora é tão cabra que antes de acabarmos o 12º ela disse-nos "meninos não pensem que depois venho aqui nas férias para pedirem recurso"
ResponderEliminarSabe bem viver com 'apenas sorrisos de lembranças de horas bem passadas a contemplar o mar e uma mão de promessas que ficaram por concretizar'. Sabe bem, tão bem não sentir a saudade de quem um dia nos deixou. Que as palavras não te faltem e que te sintas livre do que um dia te prendeu. Espero que encontres algo melhor do que a tua Mafalda Veiga
ResponderEliminareu acho que a Mafalda inspira qualquer pessoa, tem músicas com letras fantásticas! e é mesmo bom deixarmos de depender de alguém que já nos foi muito e que nos fazia mal.
ResponderEliminarera para passar na terça, mas disseram-me que na terça já tinha passado a época de pedir recurso, ou seja não fui, e meia hora depois da secretaria da minha escola fechar é que soube que ainda podia, fiquei frustrada.
ResponderEliminarA Mafalda Veiga é só a perfeição da música portuguesa!
ResponderEliminartão bom saber que nos é realmente possível despegar das coisas que nos fazem mal. mais uma vez, incrível combinação de palavras, as tuas.
ResponderEliminarBoa noite!
ResponderEliminarEstive muito tempo fora e até tinha fechado o blog, mas resolvi voltar!
Visite: http://silenceisntawkward.blogspot.pt
Beijinhos, nês!
Partilho o mesmo "gosto" de a música ser uma inspiração enquanto escrevo. E, Mafalda Veiga, é sempre uma óptima inspiração.
ResponderEliminarbeijinho*
"Sei que provavelmente não irias acreditar em tais palavras, mas não sabes como é bom ser eu a acreditar nelas." Quando nós acreditamos nas nossas próprias verdades não há nada nem ninguém que nos faça temer a dúvida. Acredita em ti pequenina, porque tu mereces ser a tua própria verdade. A tua própria razão.
ResponderEliminarnão precisas de agradecer! é uma verdade, o teu blogue é, sem dúvida, um dos meus preferidos :) **
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