23 de fevereiro de 2012

Eu não te consegui escrever nada este tempo todo, e tu nunca mais me leste desde a última vez que te entreguei em mãos umas linhas. Eram apenas isso, umas linhas de nada, porque já não há nada para se escrever. Não era preciso. Ou talvez fosse preciso demais. Mas fui escrevendo uns rabiscos, isso fui, não sabendo muito bem em que tempo conjuga-los, mas isso também pouco interessa, porque estúpida eu, fui deixá-los em cima da mesa do café a que vou todas as terças feiras já quando o sol se pôs. Mas olha, quem os encontrou se os leu - creio que não percebeu nada. Só tu talvez o percebesses, ou talvez nem tu o conseguisses. Não sei. E se percebeu, não entendeu que tinham a ver comigo, contigo, e da maneira que eu estou contigo, que nem eu nem tu queremos saber o que é ou dar nome a isto. Mas quem as encontrou talvez tenha ficado intrigado - um sentimento que eu até gosto nas palavras. Tu não? Eu acho que sim. Eram palavras estranhas, com pouco sentido, ou sem nenhum até. Não falavam de amor, de dor nem de desilusão porque tudo o que tinha esses nomes já foi escrito e rescrito vezes de mais até. Isto era uma mistura de sentimentos aos quais ainda ninguém inventou um nome. Aquilo que eu escrevi para ti - sem o ser directamente - era um código secreto de mim para mim, passado por ti, inutilmente. É que às vezes eu penso que já não tens nada a ver com isto. E outras que tens tudo, ou que apenas sou eu que gosto que tenhas. Eu já não os sei. Tu não os sabes, nem os vais saber. Não sabes dos rabiscos nem de mim. Mas eu até acho que estamos bem assim. Afastados um do outro e longe das palavras. Tão assim estranhamente.

24 comentários:

  1. "Não sabes dos rabiscos nem de mim."
    fantástica escrita...

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  2. eu escrevo-lhe tantas cartas e nunca pude mandar nenhuma e ambas sabemos o porquê, acho que será bom lê-las à frente da campa. talvez fique com a sensação de que ele me oiça. adoro este teu texto

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  3. "Tu não os sabes, nem os vais saber. Não sabes dos rabiscos nem de mim. Mas eu até acho que estamos bem assim. Afastados um do outro e longe das palavras. Tão assim estranhamente." - adorei!

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  4. Tu jogas com as palavras de uma maneira linda. Adoro!

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  5. continua a escrever que um dia, poderás ter o teu destinatário a ler e a render-se a cada palavrinha (:

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  6. este texto está lindo, confuso mas lindo. acho que se ele não sabe de ti nem dos rabiscos que lhe compões, então talvez seja melhor estarem assim "Afastados um do outro e longe das palavras. Tão assim estranhamente."

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  7. simplesmente adoro o que aqui escreves. o teu blog é LINDO!

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  8. é sempre sincero o que digo querida <3

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  9. obrigada doce. este texto está simplesmente belo.

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  10. 'afastados um do outro e longe das palavras' deslizei aqui também.

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  11. tão bom ler o que escreveste para mim, bom ter alguém que acredite em nós... Mil e um obrigados:):)

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  12. Adorei as ideias, a minha cabeça começou logo a planear coisas. Obrigada :D

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  13. acho, sinceramente, que nunca li nada tão verdadeiro. as palavras encaixaram em mim na perfeição. isto é escrever bem, escrever com alma, escrever com coração.

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  14. muito obrigada, oh.
    Mas eu até acho que estamos bem assim. Afastados um do outro e longe das palavras., quanto a mim, isto está perfeito.

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  15. a sério mesmo, querida! e adorei este miminho <3

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  16. mais um encantador... fá-lo achar-te.

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  17. Está lindo! Escreves lindamente!*

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